terça-feira, 10 de março de 2015

DIABETES MELLITUS E ATIVIDADE FÍSICA
Por Fernanda Oliveira Magalhães


            Bom dia, meu nome é Fernanda Magalhães, sou médica - endocrinologista (residente na cidade de Uberaba MG) o que é uma de minhas paixões. Dentro da Endocrinologia, me especializei em um assunto muito falado e também muito importante que é a DIABETE. 
Já matando uma curiosidade de muitos .... Diabete ou Diabetes? 

             Bem, existem quatro formas corretas de escrita da palavra: o diabete, o diabetes, a diabete e a diabetes. Podemos utilizar qualquer uma dessas palavras quando quisermos referir a doença. A palavra diabete tem sua origem na palavra grega diabétes. É um substantivo comum de dois gêneros, apresentando a mesma forma, quer no gênero feminino, quer no gênero masculino (o diabete/a diabete). Além disso, é aceitável ser escrita com s no final, mesmo sendo apresentada no singular (o diabetes/a diabetes).

            Esta é a primeira vez que escrevo para o BLOG da Fisio Prime  para esclarecer sobre o tema DIABETES MELLITUS E ATIVIDADE FÍSICA. Espero que vocês gostem!

O diabetes mellitus é um doença muito comum, que tem aumentado sua prevalência nos últimos anos. É caracterizada pelo aumento de glicose (açúcar) no sangue, com deficiência na sua utilização. O numero de indivíduos diabéticos esta aumentando em virtude do crescimento e do envelhecimento populacional, da maior urbanização, da crescente prevalência de obesidade e sedentarismo, bem como da maior sobrevida de pacientes com a doença. Estima-se que hoje, no mundo, mais de 380 milhões de pessoas vivem com esta doença, sendo que cerca de 30-40% estão sem diagnóstico.

Sabemos que a atividade física faz parte do tratamento e prevenção do diabetes mellitus. O exercício atua na prevenção do DM, principalmente nos grupos de maior risco, como os obesos e os familiares de diabéticos. Atividade física é considerada como um movimento corporal não planejado, ao passo que o exercício corresponde ao movimento corporal estruturado e planejado. Exercício aeróbico consiste em um movimento rítmico, repetido e contínuo de diversos grupos musculares por, pelo menos, dez minutos, por exemplo, fazer uma caminhada, andar de bicicleta, nadar. Já o exercício resistido consiste em atividades que usam força muscular para mover um peso ou uma força contrária, por exemplo, musculação.

Sabemos que diabéticos apresentam menor condição aeróbica, menos força muscular e menos flexibilidade do que seus pares da mesma idade e sexo sem a doença. No tratamento do diabetes podemos destacar que o exercício físico é um importante aliado, atuando sobre o controle da glicose e sobre outros fatores, como a hipertensão e a dislipidemia, e reduzindo o risco cardiovascular. Além do mais, o exercício físico atua de forma específica sobre a resistência insulínica, independentemente do peso corporal. A resistência insulínica, é característica dos diabéticos tipo 2 (90% dos diabéticos), aqueles que geralmente iniciam a doença na fase adulta e tem associação com obesidade, ou obesidade abdominal (cintura abdominal > 88 cm nas mulheres ou > 102 cm nos homens).


Pelo caráter multissistêmico e agressivo do diabetes, recomendam-se avaliações periódicas do diabético que se exercita, as quais deverão contemplar os principais sistemas comprometidos, incluindo avaliações cardíaca, vascular, autonômica, renal e oftalmológica. O teste de esforço está indicado a pacientes diabéticos que queiram iniciar um programa de exercício de moderada a alta intensidade.
Qual o tipo de exercício que deve ser realizado, após a avaliação multissitêmica? Exercícios aeróbicos envolvendo grandes grupos musculares, como, por exemplo, caminhada, ciclismo, corrida, natação, dança, entre outros, podem ser prescritos de forma constante/contínua (a mesma intensidade) ou intervalada (alternando diferentes intensidades de exercício). Aquecimento e desaquecimento são fundamentais. Exercícios de resistência/fortalecimento muscular devem ser incluídos no plano de atividades, já que eles provocam elevação da sensibilidade da insulina de maior duração, mediado também pelo aumento da massa muscular. Exercícios de flexibilidade também devem ser contemplados, pois há redução da flexibilidade pela ação nociva do aumento da glicose crônica sobre as articulações, além da decorrente do envelhecimento.


Quanto à frequência, a recomendação mais atual para a população em geral é de exercícios aeróbicos diariamente ou na maioria dos dias da semana. Para os diabéticos a recomendação de atividade aeróbica diária, ou pelo menos a cada 2 dias, é reforçada para que os benefícios sobre o metabolismo glicídico sejam alcançados. Quanto à duração a recomendação mais atual para diabéticos é de 150 minutos de exercícios de moderada intensidade por semana ou 75 minutos de exercícios de alta intensidade por semana ou uma combinação de ambos.

Recomendações da Sociedade Brasileira de Diabetes:
Procure se exercitar diariamente, de preferência no mesmo horário.
• Acumule 150 minutos de exercício de moderada intensidade ou 75 minutos de exercício de alta intensidade, ou uma combinação dos dois.
• Prefira o horário da manhã (evitar hipoglicemia noturna).
• Exercícios de fortalecimento muscular devem ser incluídos pelo menos 2-3 vezes na semana.
• Exercícios de flexibilidade/alongamento devem ser realizados diariamente.
• Procure realizar exercícios de maior intensidade pelo menos 1-2 vezes na semana, preferencialmente com algum grau de supervisão.
• Leve sempre cartão de identificação de diabético, contendo número de telefone e nome da pessoa a ser chamada em caso de emergência e a relação de medicamentos em uso.
• Informe aos profissionais que o estão supervisionando/orientando e aos seus parceiros de exercício físico sobre sua condição clínica.
• Tenha sempre carboidrato de rápida absorção disponível.
• Controle a glicemia capilar pré e pós-exercícios ao iniciar um programa de exercício e sempre que houver mudança na intensidade, volume ou modalidade de um exercício físico.
• Se glicemia capilar < 100 mg/dl, ingira 15 g a 30 g de carboidrato antes do exercício.
• Evite se exercitar se glicemia capilar > 250 mg/dl.
• Atenção com a hidratação – não espere ter sede. Beba líquidos frios (200 ml a cada 30 minutos de exercício).
• Caso faça uso de insulina, não a injete próximo a áreas de grandes grupamentos musculares que serão usados durante o exercício (p. ex., não injete insulina na coxa se pretende pedalar).
• Reduza em 30% a 50% a dose de insulina regular ou de rápida absorção quando esta for usada 1 a 3 h antes do exercício.
• Avalie com seu médico a necessidade de redução dos medicamentos em uso ao iniciar um programa de atividade física ou ao aumentar a intensidade dos exercícios.
• Reponha carboidratos no exercício prolongado.
• Atenção nos cuidados com a vestimenta, calçados e meias desportivas.
• Verifique habitualmente os pés, procurando identificar pequenas bolhas e/ou feridas, que deverão ser rapidamente tratadas.
• Evite mudanças bruscas de posição corporal, principalmente se já tiver disautonomia diabética.
• Aquecimentos e volta à calma são importantes, principalmente nos pacientes que já tenham disautonomia diabética.
• Valorize a ocorrência de sinais e sintomas anormais durante o exercício físico.
• Na presença de retinopatia diabética, evite situações nas quais a manobra de Valsalva é comum, como o levantamento de cargas pesadas e exercícios com impacto.
• Sempre que possível, controle a intensidade do exercício com frequencímetro – monitores de frequência cardíaca.
• Evite aumentos inesperados da intensidade ou duração do exercício (maior risco de desenvolver hipoglicemia).
• Evite a menor ingestão de alimentos ou maior intervalo de tempo entre a refeição e o exercício.
• Não se exercite após consumo de álcool ou na vigência de distúrbios gastrointestinais como diarreia ou vômitos.
• Não se exercite em temperaturas ambientes extremas.
• Evite se exercitar ao ar livre à noite, principalmente em locais com risco
de acidentes (menor visão noturna).
• Não se exercite na presença de quadro infeccioso.
• Evite exercícios nos quais a intensidade e a duração são previamente difíceis de prever ou, ainda, em esportes radicais (maior liberação de adrenalina, com maior risco de hipoglicemia, e consequente prejuízo da capacidade cognitiva e risco
potencial de vida).
• Evite atividades de impacto, como corrida e caminhadas prolongadas na presença de neuropatia periférica.



REFERENCIAS:
SBD – Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2014-2015

Ramalho ACR; Soares S - O Papel do Exercício no Tratamento do Diabetes Melito Tipo 1. Arq Bras Endrocrinol Metab 2008; 52/2.